Existem pessoas de todas as cores, mas está claro que nem todas as cores nos caem bem. Na verdade, existem pessoas que não nos cabem bem, como se fosse um paletó que fica pequeno, dificultando nossos movimentos.
Às vezes demoramos a perceber que algumas pessoas nos incomodam, tiram a nossa energia, nos deixam de mau humor ou, diretamente, fazem com que a gente se irrite com facilidade. Nesses casos, sobretudo se não temos uma autoestima bem trabalhada e, portanto, não temos o músculo da assertividade muito tonificado, vamos levar mais tempo do que o necessário para impor limites e começar a nos defender dessas pessoas.
Esse tipo de pessoa é o que poderíamos chamar de pessoas anuladoras. Não é um termo científico nem um diagnóstico, mas esse adjetivo pode nos ajudar a identificar a característica principal delas, o efeito mais importante que elas têm sobre nós: nos anular, nos diminuir, não nos dar importância. Em uma palavra, nos humilha para que elas se sobressaiam.
A pessoa anuladora te humilha até que você fique pequeno, acabando com a importância e o valor de cada coisa que você faz ou decide
Quando passamos por isso, esse padrão de “vampirização” costuma ser bastante irritante pois, além de tudo, ela age como uma chuva constante (ou seja, uma manobra de humilhação constante), com frequência camuflada entre a boa educação, os bons modos, episódios de amabilidade ou dedicação ou, diretamente, de tratamento normal. Essa combinação nos deixa confusos e nos leva a pensar que estamos sendo exagerados por considerar essas pessoas anuladoras. Mas elas são, não tenha dúvidas.
Pessoa anuladora: relação tóxica
Como na psicologia temos cada vez melhor ajustadas as diferentes matizes de personalidade, há um grande consenso considerar que esse tipo de pessoa tem, definitivamente, um comportamento tóxico. É precisamente essa toxicidade –em forma de respostas atravessadas, ataques mais ou menos velados ou manipulações – que nos confunde ou nos faz duvidar de nós mesmos, nos sentirmos mal e que, se não paramos a tempo, faz com que nos encolhamos e nos apaguemos até deixar para elas todo o espaço e o brilho pelo qual competem de modos tão ruins.
Já dissemos que às vezes é difícil identificar esses indivíduos, ou então não sabemos claramente se estamos diante do que chamamos de pessoa anuladora. Se esse é o seu caso, vamos dar 5 pistas que vão ajudar você a identificar se está ou não na companhia de uma delas.
Não se trata de determinar se uma pessoa está anulando a outra caso cumpra três desses cinco pontos. Simplesmente leve essas pistas em consideração. Se algo te lembrar de alguém com essa personalidade, provavelmente está diante de uma pessoa que trata de anular você e que vai conseguir fazer isso se você não colocar um freio hoje mesmo.
1. Projeta em você seus defeitos
Ou atribui a você características que considera defeitos, ainda que você não demonstre sinais. A pessoa anuladora tende a manipular quem está diante dela, sobretudo quem considera ser uma presa mais fácil. Pessoas caladas ou que aparentam ser mais vulneráveis, que se defendem ou reivindicam pouco ou que não fazem as coisas exatamente como elas fazem.
Todos nós sabemos detectar muito melhor certas características nossas em outras pessoas do que em nós mesmos. No caso das pessoas anuladoras, isso costuma acontecer com as falhas ou defeitos. acusam você precisamente do que elas mesmas fazem. Por exemplo, como quem não quer nada, podem soltar um “Nossa, que modo de falar você usou com o Fulaninho” (quando foi ele/ela quem falou mal com Fulaninho), ou “Estou vendo que você é muito competitivo” quando são elas que estão constantemente medindo para te comparar com elas mesmas, ou até mesmo um “Você é muito sério. Tem que se soltar mais”, “Você mantém as pessoas muito afastadas, não permite que elas te conheçam melhor”, etc., quando são precisamente elas que se comportam de maneira áspera ou inacessível ou que são incapazes de moldar minimamente suas opiniões.
Isso costuma deixar a vítima do anulador extremamente perplexa e confusa, deixando-a perante todo um desafio de lucidez que deve levá-la a diferenciar como é o julgamento dessa pessoa em relação ao seu próprio, ou seja, diferenciar um ataque mais ou menos leve ou velado do que é a realidade.
2. Nunca te dá razão em relação a nada
Era só o que faltava. Porque o anulador sempre tem razão, ele/ela é perfeito, mais sábio, mais experiente, mais astuto, mais rápido para captar o que você não é capaz de ver. Isso faz com que a comunicação com eles seja difícil e, muitas vezes, muito pouco fluida ou incômoda, porque suas vítimas acabam tendo a sensação de que nada do que dizem é válido ou certo.
Dessa maneira, assim que você percebe que não é uma questão de ser burro ou não ter ideia de nada, mas sim que você está diante de alguém que costumamos chamar de “sabichão” ou “sabe-tudo” ou, em termos mais coloquiais, um “palestrinha”. Não importa o que você diga, a pessoa anuladora sempre replica algo, sempre está discordando, sempre diz que você está equivocado ou, no mínimo, tem que pontuar algo em relação ao que você diz. Você não sabe como mas, casualmente, quando compartilha suas impressões com um anulador, nunca acerta na mosca. É o tipo de pessoa que, quando você diz que algo é cinza, ela é capaz de dizer “Não, é mais uma mistura de preto e branco”, ou que quando você fala “compreender”, respondem inexplicavelmente “Não é compreender, tem mais a ver com entender”. Ou seja, tudo, inclusive as afirmações mais absurdas, contanto que deixem claro que não é o que você diz, é o que elas dizem.
3. É extremamente competitiva
O que acontece é que ela compete de maneira pouco saudável, pouco honesta e pouco direta. Mas ainda assim, o faz. A pessoa anuladora compete com você direta e indiretamente, muitas vezes mediante um método que acaba sendo muito injusto, criticando você sem razão. Não importa o que você diga ou faça, diante dessas pessoas, o seu é sempre pior, toma decisões ruins e não sabe fazer tal coisa.
Imagine que você está em uma excursão indo para o campo e uma pessoa diz: Nossa, camiseta de algodão? Se você lavar, não vai secar em dois dias, toma aqui essa de correr e em cinco minutos ela vai ficar pronta para você usar. Ou, Essas são as suas meias? São grandes demais! Olha só, eu trouxe essas que são especiais para caminhada. Ou, Filtro solar em spray? Você não desperdiça muito? Prefiro em creme. Ou, A sua mochila parece mochila de colégio, você deveria comprar uma de adulto. Olhe, eu tenho essa aqui que ajuda melhor na transpiração nas costas, essa que você tem te deixa muito suado. Ou Os seus pés não ficam assados com essas botas? Eu sempre uso essas e adoro, são perfeitas para a caminhada que vamos fazer. E assim por diante. Não, ela não está te dando recomendações: está competindo com você como se fosse uma torneira que pinga sem parar , para demonstrar que é melhor e, assim, anular você.
4. Portanto, tem um pouco (ou uma pontinha) narcisista
Mas o tipo narcisista das pessoas ruins, dos perversos, do tipo que acabam provocando instintos assassinos em você, para dizer de modo educado. Nesse sentido, não são um narcisista “inofensivo” que só diz suas coisas boas mas deixa os outros em paz e sim que com seu comportamento querem, além de exaltar a si mesmos, deixar você em uma posição ruim, para contrastar com ela. Assim, passam o dia enumerando a bondade das suas opiniões, como tomam decisões acertadas, como acertam no que fazem ou já fizeram, em comparação com o que você faz, diz, pensa, decide e é inadequado.
5. São falsamente solidários
Solidariedade é apoiar alguém que está em apuros. A pessoa anuladora pode fazer isso sem problemas, já que não tem porque ser uma psicopata sem sentido da moral ou um malvado egoísta. Mas esse sujeito também tende a ajudar você sem que peça, e o que é pior, sem que você precise! O caso é que, você não sabe por que, mas te leva a interpretar que, sem a sua ajuda, você não vai conseguir resolver uma tarefa, por mais simples que ela seja. Ou seja, essa pessoa não te ajuda por generosidade espontânea, mas sim para te deixar mal, com um tom condescendente e falsamente generoso que usaríamos para falar com uma criança pequena. Deixa comigo, porque você…
Nesse sentido, o anulador faz recomendações que você não pediu ou, diretamente, indica o que tem que fazer porque é o melhor para você e não te permite nem protestar. Em outras palavras, é esse tipo de pessoa paternalista que, como sabichão, ao mesmo tempo sabe o que te convém, o que compensa e o melhor para você em uma dada situação. Com sua sabedoria infinita e desinteressada, fruto de sua grande intuição e experiência acumulada, indica o que você tem que fazer, rejeitando qualquer tentativa de tréplica ou desacordo com um “Você vai ver, mas está enganado” ou um simples “Você não me ouve, se eu entendesse disso, com certeza te ensinava”.
Definitivamente, e considerando como podem ser dissimuladas, em um primeiro momento, as tentativas de anulação de alguém, é importante prestar muita atenção nesses traços que podem estar presentes em nossa relação com algumas pessoas.
Como sempre dizemos na psicologia, não é como matemática ou robótica, não há como levar ao pé da letra. Use como um guia para saber reconhecer quando alguém não está se comportando de um modo adequadamente honesto e saudável conosco. Em resumo, a pessoa anuladora é alguém que, mediante manipulações e ataques mais ou menos leves ou mascarados, trata de impor seu critério, nos incomodando e deixando que se sinta mal com nós mesmos.
O anulador é o típico “sabichão” que sempre tem razão sobre tudo e tenta te deixar mal para ficar por cima
Se você cruzar com alguém assim, mas cada um seguir seu caminho, que bom, pois você escapou dessa vez. Entretanto, se você precisa conviver com uma pessoa anuladora (um amigo, colega de trabalho, seus pais, seu namorado/a, etc.), o nível de toxicidade ao qual essa relação se submete é alto demais e você tem que começar a colocar limites.
Ninguém tem direito de te humilhar, te diminuir ou de roubar seu espaço querendo dar a impressão que você não tem critérios ou qualidades. Ninguém deve te manipular para tentar convencer de que você é alguém desajeitado ou inexperiente, incapaz de acertar por si mesmo as coisas do dia a dia. Não sabe se você está convivendo com alguém assim? Você já entendeu perfeitamente, mas a relação se desgastou tanto que você não sabe como recuperá-la sem chegar às vias de fato? Nesse caso, chegou a hora de treinar uma série de habilidades interpessoais com as quais um psicólogo devidamente formado pode te ajudar. Não se trata de desistir de você mesmo para colocar outro. Há espaço suficiente no mundo para os dois brilharem.